DIVERSO ITAMAR ASSUMPÇÃO

Preto, pobre, jogador e então músico. Ele poderia ser um clichê, mas preferiu estancar o sangue e reinventar-se. Assim, se refez e mostrou outra forma possível de se fazer artista. O Diverso desta semana vasculha o pensamento e as memórias do músico Itamar Assumpção. Para isso, a equipe do programa conversou com o guitarrista Luiz Chagas, da Banda Isca de Polícia, com as integrantes da banda Orquídeas do Brasil, Tata Fernandes, Georgia Branco, Nina Blauth e Adriana Sanches, além do amigo Arrigo Barnabé. “A música do Itamar é muito comunicativa, mas ele fazia questão de complicá-la”, brinca Barnabé. Para Luiz Chagas, a importância do Itamar está, justamente, na tentativa de mudar as coisas. “O jeito de tratar a poética e a música mudou com o Itamar Assumpção. As pessoas, depois dele, passaram a pensar: ‘quer dizer que é possível fazer isso?'”, afirma Chagas. O programa produziu clipes com algumas das principais músicas do artista e fez uma seleção musical a partir de sugestões de alguns seguidores da fanpage do Diverso no Facebook.

Bloco 01

Bloco 02

Milágrimas – Orquídeas do Brasil

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Tumblr Cadernos inéditos de Itamar Assumpção

Está semana começou a ser divulgado o tumblr Cadernos inéditos de Itamar Assumpção, idealizado por Anelis Assumpção, desenvolvido por Rogério Velloso e apoio do Itau Cultural.

Abaixo texto extraído do site que fala sobre a iniciativa.

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“Se você chegou até aqui, muito provavelmente sabe quem foi Itamar Assumpção. O que talvez não saiba é de um hábito que ele tinha: rascunhar suas idéias (quase todas) em prosaicos cadernos, daqueles tão comuns, de escola, espiralados. Com esferográficas, lápis ou hidrocor, entre 1986 e 2003 foram muitas dezenas deles preenchidos da primeira à última página com poemas, hai-kais, lembretes, desenhos, roteiros de shows,… Ele talvez não se desse conta, mas estava deixando um mapa de sua criação vulcânica. Os cadernos ficaram, foram preservados e agora começam a ser expostos à curiosidade daqueles que se interessam e se inspiram pela sua obra e história.

Pois este site/tumblr foi criado para que estas linhas e rabiscos ganhem o mundo. E em muitas vozes e interpretações. Colaborativo, caleidoscópico, dinâmico, mutante. Convidamos você a escolher um dos textos inéditos de Itamar Assumpção e a apresentar aqui a sua própria visão deles. Vale fazer um vídeo com o seu celular, um stop-motion, um gif animado, um selfie com sua câmera, um desenho, foto, gravação de áudio ou o que mais te dê na telha. Depois pode mandar para postarmos aqui. E então você pode espalhar pela internet afora.

Divulgação

Em suas paginas pessoais Anelis, Serena e Rogerio Velloso falaram sobre o tumblr, confira

Anelis Assumpção

muita caneta foi gasta.
muita folha de papel.
muitas horas perdidas de sono.
muita história começada.
muita história mal terminada.
muita onda.
muita letra.
muita poesia.
muita criação.
muito processo.
muito delírio.
muita exatidão.
muita questão.
muita resposta.
muito isso.
muito aquilo.
muito de Itamar Assumpção.

dia 27 de março, relançamos na livraria Martins Fontes, o livro Cadernos Inéditos de Itamar Assumpção pela Editora Terceiro Nome com realização do Itaú Cultural.
Além do belíssimo livro, está no ar o tumbler dos escritos desenvolvido pelo Rogerio Velloso com vídeos finalizados pela Anna Turra de maravilhosas criaturas interpretando alguns destes textos
Um convite a todos que façam seus vídeos e espalhem por ai um pouco mais desse muito tudo.

na primeira leva de vídeos estrelando Gero Camilo, Fabricio Boliveira e Pethit Thiago
deliciem-se.

Serena Assumpção

Daí que Itamar, meu pai, era um (baita) poeta. E a poesia maior de sua vida, a música, era escrita em cadernos universitários com espirais de metal. Daí que ele também nos deixou muito, muito trabalho a realizar. E a gente vai fazendo, um pouquinho por dia, por semana, por centenas de horas e a coisa acontece, sempre de um jeito bonito, do jeito mais bonito. A iniciativa Itamar Assumpção, é claro, tem o dedo fértil do Rogério Velloso. E minha irmã, Anelis Assumpção, sempre tão cheia de (baitas) idéias, chamou um povo lindo pra dizer uns textos do livro “Cadernos Inéditos”, aquele que lançamos em 2012 e que agora vai chegar muito mais fresco e crocante, aguarde, o Brasil! Tudo isso e mais um tanto, pode ser conferido aqui nessa página bonita, feita do jeito mais bonito, cheia de carinho e honestidade. Sim. Meu pai Itamar nos deixou um monte de coisas pra realizar, pra botar axé, no que não podia fazer acontecer sozinho. Às vezes nos tira o sono. Na grande parte do tempo é amor. Mas é que o amor machuca, desestabiliza o eixo, provoca o “equiíbrio”, zera o ego, tira o chão, causa arrebatamento, raiva e compaixão. Acho que este é seu maior ensinamento pós vida terrena. Itamar Assumpcão é um baita poeta.

Rogério Velloso através da pagina oficial do filme Daquele Instante em Diante

A Iniciativa Itamar Assumpção agora é essa: está entrando no ar (ainda em caráter experimental) o tumblr “Cadernos Inéditos de Itamar Assumpção” – um site colaborativo inspirado nos escritos deixados inéditos pelo Nego Dito. Está lá, neste link, aguardando que você o decifre. E participe.

Salve Itamar Assumpção!

Anelis, a pequena grande filha

ImageDurante o show de lançamento de Estudando a Bossa, o trabalho mais recente de Tom Zé, uma aparição miúda, morena e suave deu um respiro, um momento de placidez, em meio à usina criativa do baiano de Irará. Era Anelis Assumpção, uma das cantoras convidadas para o novo disco de Tom Zé, onde interpreta “Solvador, Bahia de Caymmi” à qual ajuntou no show “Outra Insensatez, Poe!” no CD cantada por David Byrne. Como uma mistura de Astrud Giberto e Lauren Hill, a menina levantou a platéia.

Ser filha de Itamar Assumpção tem lá suas vantagens. “Lá vem a Anelis com idéias, ah! é a filha do cara então tudo bem, deve ter alguma idéia, deve saber do que está falando…”. Segundo ela, sempre foi meio “engolida”. Mas na prática não é bem assim. Quando Anelis era pequena, Serena, a irmã mais velha, já cantava. Ela também, mas nunca assumia para o pai que soltava a voz. E ele não dava espaço. Anelis pedia que lhe ensinasse violão mas ele não tinha tempo ou paciência. Mostrava um acorde, mandava repetir, e quando Anelis percebia, ele estava dormindo. O estalo só foi acontecer lá pelos 17 anos. Ela trabalhava no MacDonald’s, se preparava para o vestibular para artes plásticas e trocava figurinhas com Iara Rennó, quando a mãe desta, Alzira Espíndola, parceira de Itamar, convidou-as para cantar em um barzinho da Penha. As duas cantaram músicas de Rita Lee, e Itamar quando soube, enciumado, convidou a dupla para cantar com ele no primeiro show que marcou. Anelis nunca mais saiu de seu lado no palco.

“Com ele aprendi o silêncio, a emissão da voz em outra região, escalas, uma outra intenção, muita interpretação, essa coisa muito cênica que ele sempre teve, nada muito técnico. Mas ele falava, era muito verbo, muito sermão”, diz ela, que ouvia o tempo todo “minha música não é música de grito, não precisa gritar”. E Anelis cantava completamente diferente da Iara, que tinha o domínio de harmonia, abertura de vozes. “Afinal, na família Espíndola os caras já nascem abrindo uma terça”, brinca. Itamar sacava isso e ia ensinando na base de muito sermão e ensaio – sempre que não gostava de algo Itamar apelava para o diminutivo. Então Anelis tinha vozinha, compunha musiquinhas, escrevia letrinhas. Pelo menos no início.

ImageHoje Anelis sobrevive como apresentadora de televisão e mais uma vez foi o pai, meio sem querer, o responsável pelo seu ingresso no meio. Em 2001, na segunda edição de O Banquete Dos Mendigos, disco comemorativo dos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, organizado por Macalé em 1973 e proibido pela ditadura, Itamar e Hermeto Pascoal leriam os três primeiros artigos. Itamar logo compôs uma canção no que foi apoiado pelo albino, mas a direção foi contra. Os artigos deviam ser lidos e não cantados. A solução foi a dupla tocar enquanto Anelis lia para a câmera. Viram seu desembaraço e sua fotogenia e logo ela estava apresentando o programa Guerrilha.

No mesmo bar em que se apresentaram com Alzira, Iara e Anelis conheceram Gustavo Ruiz, que, ao lado de Andréia Dias, “pescada” em Ubatuba por Iara, formaria o núcleo da DonaZica, para Anelis a base de tudo. A banda, pela qual passaram, entre outros, Simone Julien, Gui Mendonça, Alfredo Bello, Simone Sou, Gustavo Souza e André Bedurê, gravou dois discos, Composição (2003) e Filme Brasileiro (2005) e hoje passa por um momento de desquite amigável. Mas foi onde Anelis se encontrou. Embora cantasse e compusesse, viu que tinha mais jeito para olhar o todo, opinar sobre o arranjo, sentir a sonoridade. E dedicar-se à percussão. “Ninguém me ensinou, eu fui tocando, fui tendo instrumento, vendo, tocando junto.” Primeiro com Simone depois com Maurício Alves, percussionista do Mestre Ambrósio e pai de sua filha Rubi – cuja chegada foi responsável pelo ingresso de Mariá Portugal na DonaZica, onde ganhou cadeira cativa. Por isso DonaZica só gravou duas músicas suas “O Piano” (ofício fatídico) e “Pimenta”, parcerias com Iara, que estão no primeiro disco.

Anelis dedicou-se à televisão deixando as composições e a musicalidade de lado. Quando Itamar morreu em 2003 falava em produzir um disco dela. Deixou muita coisa para ser feita, a Caixa Preta com sua obra, discos inéditos. Então foi cuidar disso. “Depois eu vejo como fico e a minha música se é que isso vai acontecer.” Compunha escondido. Até que a convidaram para fazer um show com Zélia Duncan, no ano passado. Projeto Afinidades, um artista consagrado e um novo. Anelis disse que ia consultar o pessoal da DonaZica quando soube que era ela a convidada. No fundo era natural. Já havia cantado no disco dela, no DVD, nos shows. Respondeu que não tinha um show e ouviu na lata, “então levanta um!”
Fritou um pouco com a idéia mas decidiu-se, “é show, tenho música, sei fazer isso”. Mas tinha de começar do zero. Coincidentemente, quando foi buscar um instrumento na casa de um amigo, caiu no meio de um ensaio da banda Rockers Control. Ficou chapada com o estilo dub deles, repetição, loopings, ecos, que já curtia. Houve até um tempo em que cantou em um projeto chamado Cordão da Insônia ao lado de Beto Villares, BNegão, Curumin e Céu, na época garçonete do Spot ao lado de Andréia Dias. Resolveu chamar três músicos da banda Rockers, o dono da casa, Bruno Buarque, bateria, o Mau, baixo, e o Cris Scabello, guitarra, que toparam na hora. Para ter um “chão” foi atrás de Lelena Anhaia, baixista, uma das Orquídeas do Brasil, grupo feminino formado por Itamar, e velha amiga. Por chão entenda-se intimidade. Não era mais a família DonaZica. Em um trabalho solo a ‘brigaiada’ é a mesma de um grupo mas a responsabilidade pelo sucesso ou o fracasso é de apenas um. Foram montando o show, a Lelena concorda em tocar violão, cavaco e guitarra quando cai a primeira bomba. O Bruno ia ter de viajar para o exterior com a Céu ou os Barbatuques. Entra em cena Simone Sou.

Anelis construiu o show com Simone, uma usina de criatividade que, de quebra, introduziu o MPC – Music Production Center, o tal seqüenciador, que organiza e sincroniza samplers e demais sons – que vinha usando em seus shows. No dia do show, a segunda bomba. Uma tempestade fecha todos os aeroportos e a Zélia não vai. A direção do Sesc propõe à Anelis, “você pode fazer sozinha ou podemos devolver o ingresso. De qualquer forma remarcaremos o show”. Anelis tinha investido três meses e resolveu encarar. Casa lotada. Era o público da Zélia. No máximo 10% a conhecia da televisão ou da DonaZica. Mas ninguém devolveu o ingresso. Aplaudiram no fim e Anelis tomou gosto. Hoje filosofa, “quarta-feira, dia de Xangô, claro que ele ia fazer uma coisa dessas comigo”.

Bruno voltou e ficaram duas baterias, mais ou menos como no DonaZica. Lelena curtiu o distanciamento do baixo e as idéias fervilharam. Há muita colagem de músicas, por exemplo “Mrs. Jones”, do Billy Paul, com “Meu Amor”, de Itamar, do disco Sampa Midnight, que ficam tão parecidas que muitos pensam que uma é versão da outra. “Sonhando”, de Karina Buhr, é cantada sobre um tema de Fela Kuti. O rapper Black Alien aparece no meio de “I Want You (Shes’s So Heavy)” dos Beatles. “No No No” se confunde com “Nave”, duas composições de Anelis, que também apresenta “Como é gostoso”, “Estrela”, “Bola com os amigos” e “Passando a vez”, esta com pitadas de Mano Brown. Do pai canta ainda “Bem que meu pai me avisou”, que na verdade chama “Mulher segundo meu pai”, gravado apenas pela DonaZica, e “O que você tem feito”, inédita com a Alice Ruiz, encontrada em uma fitinha caseira.

Disco? Uma incógnita. Está inscrita na Petrobras mas se sair já estará com o disco pronto. Começa a gravar em janeiro. Anelis acha que sua geração pegou um mercado confuso. Ninguém sabe o que vai acontecer, como lidar com direito autoral. Já pensou até em pôr tudo na internet. Com certeza o resultado será diferente do show, que já é diferente da estréia. Compôs uma música com Andréia, outra com Céu e 11 com Alzira e o irmão desta, Jerry Espíndola. Tem músicas que ainda nem mostrou para a banda. Mas adquiriu confiança, sabe o que está fazendo. “Acho que herdei uma coisa do meu pai, que é sempre deixar a coisa leve, colocar na música um certo humorzinho”, afirma, sem perceber o ato falho.

ImagePara conferir a matéria original clique aqui

Orquídeas do Brasil

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Tata Fernandes, voz – A primeira vez que ouvi Itamar foi em 1981, na televisão. Fico louco tocava na abertura da novela. Os adolescentes, que marcou a estreia de Julia Lemmetz. Eu e minha irmã não perdíamos um capitulo por causa da musica, que não sabíamos quem cantava. A Vange Milliet, com quem eu tocava na banda UZI, foi quem deu a dica: banda Isca. Seu namorado, Lepetit, estava organizando o show Retro-expectativa, e nós duas entramos na banda Isca. Me apaixonei para sempre. Quando Itamar resolveu montar as Orquídeas, “porque não aguentava mais tocar com homem”, pediu que eu o ajudasse. A Nina e a Miriam moravam comigo. A Simoninha estudava comigo na Universidade Livre de Música (ULM), a Clara tocava com a Miriam em uma banda chamada Canastra. A Alcione, a primeira baterista, cedeu o local de ensaios.

Simone Soul, bateria – Eu conhecia bem o som do Ita. Era casada com o enteado do Gigante, o Tiano, e tocava bateria desde 1986. Na ULM conheci a Nina e, quando a Alcione saiu, entrei no lugar dela. No primeiro ensaio ele falou de uma maneira tão especifica que foi um pouco difícil de entrar no universo dele. Mas logo nos afinamos. Ai veio o Ataulfo e eu pude tocar com o Gigante. Hoje vejo o quanto o Giga representa a música do Itamar. Itamar deixou no ar essas sementes todas, polinizadas.

Miriam Maria, voz – Cada uma de um lugar, cada uma tinha um nível de formação Como combinar tudo isso? O Itamar partiu de um som que já existia, Secos & Molhados, para a gente se encontrar como sonoridade de banda. Foi tão natural e gradativo que quando percebemos só estávamos tocando as coisas dele, Itamar. Ele sabia das coisas, não é? E ele é pulsação, coração-pulsação, aquele bum-bum. E é uma conexão de sutilezas.

Lelena (Maria H. Paula Sousa Anhaia de Mello), baixo –  Eu já tinha tocado com o Luni, com o Skowa e a Máfia, e na banda do Tonho no cursinho Intergraus, e, São Paulo. E vi aquele show no Lira Paulistana com a rede de corda, animal. Amava o Itamar. No primeiro show das Orquídeas na Funarte não pude ir e colocaram a Clara no meu lugar. Ficaram, dois baixos e Itamar fazia duas linhas de baixo. Pentelha invoquei. Cheguei a sair. Implorei para voltar.

Renata Mattar, voz, saxes, flautas e sanfona – Sou de uma família de músicos, mas tradicional. Aos 16 anos vi o Itamar na Funarte e pirei.   Descobri que existia uma coisa completamente diferente. Segui os shows e dez anos depois estava próxima dele. Tocava com a Lelena, Simoninha e a Tata no grupo As pastorinhas. Cheguei nas Orquídeas quando o disco já estava pronto, mas o Itamar colocou uma foto no encarte e ensaiávamos todo dia. Eu tocava flauta e sax. A sanfona veio depois. O Itamar era tão absurdamente intenso e criativo que a gente vai descobrindo todo dia uma coisa nova dele.

Geórgia Branco, guitarras – Fui convidada para entrar na banda enquanto assistia à Cássia Eller cantando no vão livre do Masp. O Itamar estava no pé do palco. Fiquei tão emocionada que no primeiro ensaio fui de bicicleta, sem me tocar que era longe! Não estou na capa dos discos por que tinha ido para Londres. Fiquei oito meses na Europa, e o Itamar ligando: “Meu, vem aí que nós vamos gravar”. Mas deu tempo de colocar as guitarras. Para o encarte, ele pegou uma foto 3×4 e fez um enxerto, mas nos primeiros shows me deixou de castigo na plateia. Ele curtia pedal de wah-wah e virava para trás fazendo “uá! Uá!” com a boca. Tenho isso fotografado na minha memória. A única pena é que ele era santista.

Adriana Sanchez, teclados – Eu tocava com algumas Orquídeas em outros projetos e o Itamar queria um teclado. Le me ligou explicando a proposta, simples e direto. Foi uma rara oportunidade. Eu tocava com bandas de estilos variados e até cover. Depois que se trabalha com o Nego Dito, nunca mais sua música é a mesma, a gente nunca mais é a mesma. Na sua cabeça, ele já sabia o que cada instrumento ia fazer, sentava na frente de cada uma, mostrando exatamente o que queria.

Simone Julian, sopros Tinha estudado flauta e tocava em shows do colégio Oswaldo Cruz. Na hora que pintou o convite, eu fiquei louca. Afinal, era para tocar sax. Será que eu consigo?  A flauta funcionava como um teclado, tinha linha definida. Logo de inicio queria que a gente tocasse as músicas dos Secos & Molhados. A gente ia tirando e ele em um canto. Ele nem via o resultado. Logo estávamos tocando as composições dele. E era um barato, porque ele tinha esse lado relaxado, mas era rígido, um paizão exigia que a gente decorasse o roteiro do show. Eram ensaios de seis horas, quer dizer, durante as primeiras quatro ele ficava na dele, nem falava com a gente. Ele criava tudo.

Nina Blauth, voz e percussãoFui uma das primeiras a entrar. Tinha começado a tocar bateria há pouco tempo em uma mini big band em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, onde morava e fazia teatro amador. Vendi tudo, me separei e vim estudar na ULM, Logo sai porque os ensaios eram o dia inteiro. Conhecia a Vanguarda Paulista, ouvia na radio Ipanema nos programas de Cunha Jr., gaúcho. Anos mais tarde, tocamos em Berlim, Munique e Tübingen, só os dois. Minha temporada com o Circo Acrobático Fratelli acabava em Portugal e eu havia ganho um Europass da minha família. Foi maravilhoso nós juntos na Europa. Em paris nos juntamos ao Duofel e a um grupo de jazz improvisamos.

Clara Bastos –  Livro de canções

1000841_183628518471820_903812641_nQuando recebi o telefonema do Itamar com o convite de realizar estas transcrições, minha cara de espanto não pode ser vista. os olhos um pouco arregalados não eram só pela responsabilidade, eram por lidar com o que parecia ser uma contradição. Como faria caber em algumas folhas de papel este gigante?

jamais uma partitura seria capaz de conter o suingue e a dicção perfeita que abraça as as palavras ; a astucia e a inteligencia do ator respondendo de bate-pronto ao publico; o pleno domínio do palco, a gentileza e delicadeza de um verdadeiro prestador de serviços, como servo da musica; o senso de humor; a capacidade de autocritica ; a elegância e o carisma daquele homem esguio; a confiança e a liberdade de quem não deve nada a ninguém. Todas essas características, para mim, são indissociáveis desse artista integral. No entanto, a partitura é só um guia. Sua função não é contar historia completa.

De qualquer forma, havia outra questão bem pertinente. Quando ouvimos os primeiros discos, podemos perceber que os arranjos das musicas são contundentes o suficiente para serem confundidos com a composição da canção propriamente dita. um tipo de sonoridade construída para causar impacto, para tornar visível o compositor, cantor e instrumentista.

Itamar dizia que não valia a pena a empreitada se não fosse para realizar um trabalho muito bom, se não fosse para acrescentar à musica popular brasileira. Sempre falava do quanto escutou Jimi Hendrix, os batuques da cidade de Tietê, Milton nascimento e tudo que gostasse de ouvir à exaustão. Agradecia a Jorge Mautner e Arrigo Barnabé por sua entrada verdadeira na música como instrumentista e arranjador. E agradecia a Rogério Duprat , Hermeto Pascoal, Elis Regina e Paulinho da Viola – a quem pediu uma apreciação de suas musicas, para saber se realmente “dava pra coisa” . As pessoas e a vida foram confirmando para ele que de fato era um grande artista.

Clara Bastos é contrabaixista e formada em jornalismo. Dá aulas em escolas de música e participa de gravações de Cds e shows. Acompanhou Itamar Assumpção por mais de dez anos e fez transcrições das músicas do compositor para o songbook:  Pretobrás Por que que eu não pensei nisso antes? O Livro de canções e histórias de Itamar Assumpção –  2006

Trilogia Bicho de Sete Cabeças

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Fonte:  Pretobrás Por que que eu não pensei nisso antes? O Livro de canções e histórias de Itamar Assumpção 1 e 2 (Organizadores Luiz Chagas e Monica) 2006

Fotos: Extraídas do arquivo pessoal no Facebook de algumas delas.

Não devia ser proibido – por Serena Assumpção

Desde a morte de meu pai, Itamar Assumpção, em 2003, eu e minha pequena família de mulheres estamos articulando, orientando, organizando e disponibilizando ao público seu legado musical, baseadas, principalmente, no que absorvemos do pensamento artístico de Itamar.

Algumas ações executadas foram fundamentais para que esse processo se consolidasse com força: o lançamento do disco gravado com Naná VasconcelosIsso Vai Dar Repercussão, em 2004, um ano após sua morte, e o Livro de Canções e Histórias de Itamar – Por Que Que Eu Não Pensei Nisso Antes? ”, em 2006. Nesse mesmo ano, começamos as negociações com o Selo Sesc, na tentativa de viabilizar aquele que é o box com toda a discografia de Itamar remasterizada, e mais dois discos de músicas inéditas. A Caixa Preta (à dir.) foi lançada em 2010.

Os discos inéditos, chamados Pretobras 2 – Maldito Vírgula e Pretobras 3 – Devia Ser Proibido, produzidos por Beto Villares e Paulinho Lepetit, respectivamente, encerram a trilogia imaginada por Itamar e iniciada como Pretobras – Por Que Que Eu Não Pensei Nisso Antes, em 1998 – muito antes do ano do lançamento da Caixa Preta. Como compositor compulsivo e artista disposto ao trabalho que era, ele deixou as músicas prontas e registradas em diversos lugares.

Finalmente, no ano de 2011, foi lançado o longa-documentário Daquele Instante em Diante, que esteve em cartaz por cerca de 40 dias – sem cobrança de ingresso – em todas as salas Itaú-Unibanco do Brasil. O filme, sucesso de público e crítica, continua a ser exibido eventualmente e gratuitamente. Há pouco, o diretor, Rogério Velloso, num movimento arrojado e corajoso, disponibilizou o filme na rede de computadores. Declaro que essa movimentação foi apoiada por mim e por minha família, já que acreditamos no conhecimento e na informação livres, assim como deveriam ser livres – inclusive da burocracia – TODAS as formas de expressões artísticas.

Ao pensar em uma provável biografia de meu pai, obviamente tenho como ideal a situação de estarmos (as herdeiras) acompanhando o processo de escrita, inclusive para contribuirmos com a verdade fundamental – e a não-fundamental – de sua história. Sem sombra de dúvidas, reunimos elementos informativos e afetivos de extrema relevância para o mínimo de entendimento sobre o artista e sua obra. Especialmente minha mãe, Elizena, esposa e companheira de Itamar em seus últimos 35 anos de vida.

No entanto, e talvez por considerar demais improvável a possibilidade de algum biógrafo começar a trabalhar num projeto literário sobre Itamar Assumpção sem antes passar por essas três humanidades primordiais – eu, Zena e Anelis –, considero qualquer tipo de restrição e impedimento jurídico/financeiro/institucional (emoldurados pela forma mais primitiva do capitalismo) ao legado cultural deixado por Itamar – e por outros fazedores de arte – de uma cafonice que só é possível mesmo encontrar no Brasil de meus deuses baianos! Esse monopólio de ações e maniqueísmos na área dita “cultural”é absurdamente retrógrado e obtuso.

É importante que se saiba que as ações de continuidade, derivadas do trabalho de uma vida inteira de Itamar, merecem e precisam de afirmações e revistas constantes e, sim, esperamos e estamos obtendo com elas todo o respaldo financeiro que não apenas nos fora dado por direito legal, mas principalmente, fortemente confiados por meu pai durante toda a sua vida.

Ora. Por que abriríamos mão do mais importante fio condutor da postura artística de Itamar, exatamente essa dignidade e esse sentido de justiça-equilíbrio, incontestes?

Por isso, pessoalmente, não apóio nenhuma vertente de censura. Ainda mais essa que deselegantemente tem se apresentado, a censura reacionária. Aprendi bem pequena que nem tudo o dinheiro compra – ou compra o suposto pequeno poder. Não compram, por exemplo, a memória de um artista talentoso. Não compram o trânsito livre, o livre pensar, o livre fazer, o livre gostar, a liberdade, em toda sua subjetividade sofisticada.

Não compram o caráter sem a mácula da demagogia e do bom-mocismo.

E definitivamente, não compram a paz de um espírito.

(Dedico este texto às memórias de Itamar Assumpção, Wilson Baptista, Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho, Geraldo Filme, Cartola e João da Baiana.)

 (Serena Assumpção é cantora e filha de um dos maiores gênios da música brasileira, Itamar Assumpção.)

Para ver a matéria original acesse: Farofafá

Festa Batuque Ancestral | Memórias e Referências de Itamar Assumpção

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Em ocasião do que seria seu 64º aniversário, em 13 de setembro haverá um evento na Casa do Núcleo a Festa-Batuque propõe uma homenagem ao compositor paulista Itamar Assumpção (1949-2003) . O evento fará ainda, um resgate de sua ancestralidade banto-angolana de Tietê e suas influências musicais. Por influências, entende-se tudo o que abrangia e globalizava o vocabulário musical de Itamar: seus grandes mestres e ídolos – do cancioneiro popular brasileiro ao jazz-rock americano da década de 1970.

Para tanto, contaremos com os músicos Ari Colares, Sapopemba, Duo Negra Melodia e extenso e eclético set dos DJs Roger Pinheiro e Giuliana Xavier, além de encontros e outras surpresas.

Nesta noite, haverá também projeção de fotos, documentos, poemas, desenhos de todas as pessoas que queiram participar e tenham material referente a Itamar, como sendo um grande parabéns pelo seu aniversário. Relembrando e olhando para o futuro, seguiremos dançando “começar boca da noite, só parar no céu azul”.

Para mais detalhes acesse o site da Casa do Núcleo

Para confirmar presença acesse a página no Facebook 

Itamar é palmeira do deserto, valente-forte

12 de Junho de 2013, dez anos sem o Bendito Itamar. O dia foi repleto de homenagens da família, amigos, fãs e todos que nunca deixaram e nem vão deixar a chama “Itamarina” apagar.

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Itamar Assumpção 10 anos isso não vai ficar assim

Baseado no registro de shows e entrevistas com artistas que integram o projeto Caixa Preta, que passou por Brasília entre 18 e 21 de abril. Todo o material foi organizado em um mapa que transforma a linha metroviária de São Paulo em um passeio por diferentes momentos da trajetória do artista. Assim, é possível “embarcar” em 38 estações que contam com músicas e depoimentos de amigos, familiares e admiradores de Itamar.

Captura de tela inteira 1362013 142755.bmp

Clique nos links abaixo para ver as matérias completas publicadas pelo portal EBC:

Itamar Assumpção – Isso não vai ficar assim

Sobre o projeto

A morte é a flor vista de baixo por Anelis Assumpção

itamar_anelis02Oi pai.

resolvi te escrever. tenho pensado que toda essa virtualidade pode ser positiva no que se refere a minha comunicação contigo, já que não sei seu endereço e por aqui dizem que tudo que escrevemos na internet fica nas nuvens. .então, já faz 10 anos que nos falamos pela ultima vez. Na verdade eu falei e você chorou. chorou e partiu.

caramba, aconteceu tanta coisa!

(…)

Hoje entendo muito daquelas conversas que tivemos e agradeço ao pai maravilhoso que eu tive nessa vida.meu amor por você nunca morrerá!

nos vemos nas nuvens.

um beijo

Mais no blog:  Estou sujeita

Serena Assumpção

540533_454069367954697_1436287452_n“Hoje, 12 de junho de 2013, faz 10 anos que meu pai – Itamar de Assumpção, suspirou seu último suspiro cansado desse mundo disforme e voltou pro Orum, de onde já viemos. Meu ancestral mais próximo. Aquele com o qual converso todo santo dia. Aquele a quem peço conselhos e de quem quase não tenho tempo de sentir saudade, tamanha presença e constância em minha vida.
No dia desta foto, tirada no Sesc Pompéia em 1989, ele havia ganhado estes lírios de um fã. Lembro dele ter me dito – “Agora que estão em suas mãos, são seus.” Talvez tenha sido a primeira de uma leva de muitas flores que eu ganharia dele, enquanto vivo. Foram rosas, orquídeas, crisântemos, margaridas, também em pensamento e singelamente desenhadas num pedaço de papel, ao longo de uma carta enviada à Dinamarca. Em todo 12 de junho, celebro o fato de sua passagem ter sido feita “piadisticamente” no tal dia dos namorados. Morte efeito romance trapalhão. Para não me deixar esquecer que o amor que importa é sempre leve e que as sementes plantadas todos os dias, invariavelmente me darão flores. Meu ancestral mais próximo. Aquele que deixou a mim e à Anelis um sem número de irmãos. No dia de hoje, quem tem um pouco de Itamar no coração, receba nossos lírios.
Sua benção, pai. Kaô Kabiesilê – Xangô na Terra e em muitas esferas. ♥”

Postagem original na pagina pessoal da Serena

Obra de Itamar Assumpção se espalha dez anos após a morte do criador

Por Mauro Ferreira

Seria exagero dizer que, há exatos dez anos, o Brasil chorou a morte de Itamar Assumpção (13 de setembro de 1949 – 12 de junho de 2003). A precoce saída de cena do compositor paulista entristeceu somente a pequena parcela do público que ouvia a obra do Nego Dito, então aparentemente indissociável do movimento dos anos 80 rotulado como Vanguarda Paulista.

Matéria completa no blog: Notas Musicais

O universo de Itamar Assumpção!

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por Cidinha da Silva

(…) Quando o mundo lhe oferecer as migalhas próprias da norma, da convenção, é hora de ler, com atenção, o bom  Itamar. É da arte da sobrevivência o exercício de compreender que se o mar não está para peixe, não dá para pescar, mas aceitar farelo, nunca! Quando qualquer aparição patética, qualquer imagem da patetice vier a valer mais do que uma idéia, um bom argumento, um texto preciso ou criativo, vale recorrer a Itamar Assumpção, para sobreviver à correnteza do mal. (…)

Matéria completa no Blog: Nota de rodapé

Sampa Midnight – História musicada em quadrinhos

Sampa Midnight ganhou sua versão visual na HQ de Mauricio Brancalion, foi parte do seu TCC na faculdade e depois feita em 2006 para um concurso de quadrinhos do Senac Scipião na Lapa onde ganhou menção honrosa.

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Sampa Midnight – Isso não vai ficar assim (1983)

Itamar une arquitetonicamente letras e notas, fazendo com que estes elementos se entrelacem de forma tão ampla e intensa, que a soma das partes resultam em algo além, de outra dimensão.

Sampa Midnight é assim, um cd de outra dimensão, para ser ouvido e entendido. É necessário destrinchar a sua poesia, perceber cada instrumento e seus arranjos, sentir o peso do contrabaixo,  as interferências do trombone, os breques e repiques da bateria, os gritos e sussurros dos vocais e da guitarra, sem perder o foco a interpretação de Itamar.

Da primeira a ultima musica, são arranjos em tons marcantes, pautados por letras que contam historias dos mais variados naipes. São Paulo é lembrada diversas vezes, mas, em especial, é cenário de “Sampa Midnight”, musica homônima ao cd, que conta a noitada de três amigos embriagados.

Leide Moreira Jacob, produtora musical

(Texto extraído do livro que compõem a Caixa Preta de Itamar Assumpção lançada em 2011 pelo Selo SESC)

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Suzana Salles e a banda Isca de Policia         

Ahh, esse samba de breque, ou melhor, rock de breque! História contada com começo, meio e fim, bem visual, bem teatral. (…) É a cara de São Paulo, Germano Mathias, Paulo Vanzolini, Adoniran, hip hop… Tudo ao mesmo tempo e agora.

Suzana Salles

A meu respeito

img343_2Não existe esse negócio de ser MPB, de ser isso e aquilo. Este é um país cuja principal característica é não ter característica. Então como você vai ficar colocando títulos? (…)
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Então é muito chato essa conversa de ficar falando da minha música, da música do Arrigo. Nós nos defendemos criando. A gente já se defendeu. Não precisa nos defender, né? É bobagem isso. (…)
Deixa os pretos, é bom pro Brasil, pra música brasileira. Sem eles como é que ia fazer  com o fado, enfadonho como é, com a música clássica que dá sono e com a música de índio que nem chuva chama? Então esse papo de racismo deu no meu saco há muito tempo. Bom, posso dizer que ser preto é positivo pra mim como artista porque sou preto, entende? Tenho a tecnologia dos pretos, não me canso de falar isso. Desde que eu me conheço por gente é isso que eu sou na vida. Som, música, todo o tempo. Batuque desde criança, os pretos o tempo todo. (…)
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Gravadora é o seguinte: uma música tem que ser feita para ser vendida e tão somente. E essa música tem que ser uma coisa, um produto, que se preste a isso. Totalmente descartável. Bom. Se a conversa é essa, como é que vou mudar essa conversa? Eu, o artistão, que estou aqui com as minhas musiquinhas, como é que vou mudar essa conversa?
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Quando eu cheguei, já tinha o Milton, o Melodia, o Paulinho da Viola , esse pessoal que já sofisticou música pra cacete, produziu uma música sofisticadíssima. Então, você vai falar o que? Abobrinha? Tanto que eu tive o cuidado de ver o que estava acontecendo. (…)
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Não é só chegar na gravadora e falar, você é filho da puta porque eu não posso me desenvolver artisticamente, e tchau, porque eu sou, porque preciso pensar, e como fazer um disco por ano, e tal?…então tem todo um raciocínio depois que Inês é morta, que eu fui alertado antes. Se tivesse entrado, estaria crau!… porque não sou o rei da cocada preta. Se fosse entraria lá e mudaria tudo. Como não sou estou aqui, onde estou. Resolvi andar, às próprias custas. Essa coisa de ficar de rabo preso não dá certo. Nem com amigos. Porque aí os amigos pisam no tomate e você tem de ficar quieto. Não sou o guardião  da verdade mas quero a liberdade de não ter que. De ter que participar de tudo quanto é falcatrua senão você esta por fora. Se não entra numa roda não vai pro mercado, não acontece. Essa imposição à arte, não… jamais alguém vai ter como segurar a arte, porque isso não existe. Não aguento mais essa defesa dos talentosos. Quem tem talento é o primeiro com possibilidade de tocar o seu trabalho.
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Eu sou de uma família de atores. Aliás, foi difícil pra eu ver a música porque o teatro era muito forte na minha vida. Cheguei a pensar: Será que não é o teatro a minha vida? Hoje me parece que tudo não passou da preparação de uma linguagem. O palco é realmente o meu espaço e a interpretação teatral. Minhas músicas são interpretadas o tempo todo. E não é a interpretação de um interprete ou de um cantor, mas de um compositor, ator, arranjador, etc e tal. No Brasil você tem que ser isso ou aquilo. Tiririca, Leandro e Leonardo, não dá. Egberto Gismonti, também não dá. “Onde você está?”, me perguntam. Não sei. E não adianta querer me colocar em algum lugar… eu estou na música brasileira. Se vire, quem quiser. Falo de uma música pra ficar. Faz vinte anos que eu estou aí e não sei como faz pra ficar, cara. Só sei que não tenho a ver com nenhum movimento, agora passou pra outro, agora passou pra outro, agora passou pra outro. Minha música da muito trabalho.
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Extraído de entrevista concedida a Luiz Chagas, na Penha, em 9 de Agosto de 1999 no livro Pretobrás: Por Que Que Eu Não Pensei Nisso Antes? O livro de canções e histórias de Itamar Assumpção, vol II – São Paulo: Ediouro, 2006 – Organizadores Luiz Chagas e Mônica Tarantino
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os malditos também sambam

Já imaginou um bloco de Carnaval puxado por Itamar Assumpção, Jards Macalé, Tom Zé, Sérgio Sampaio, Walter Franco e Jorge Mautner?

Repertório não faltaria, pois todos são autores de samba, como prova esta seleção de 13 músicas feita pelo Álbum Itaú Cultural.

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ouça aqui: play list

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Lançada em 1998 no álbum Pretobrás por que Eu Não Pensei Nisso Antes, “Vou de Vai-Vai” transporta Itamar Assumpção (1949-2003) para o Bixiga, bairro de uma das principais escolas de samba de São Paulo.

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daquele instante em diante

110708-124558-3-poster_2Durante 3 anos Rogério Velloso mergulhou na obra de Itamar Assumpção para preparar o documentario “Daquele Instante em Diante”.
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Com depoimentos da familia, amigos, integrantes das bandas que acompanharam Itamar (Isca de policia e Orquideas do Brasil) os quase 120 minutos de filme emocionam, surpreendem, instigam, fazem com que tenhamos vontade de mergulhar com a mesma intensidade que Rogério fez tão bem.
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Lançado em Julho de 2011 o documentario teve exibições nas salas de cinema Arteplex em São Paulo, Itau Cultural, Auditorio Ibirapuera, além de já ter sido exibido em Curitiba e Belo Horizonte.
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Na sexta-feira passada (31 jan) o diretor, através da página de divulgação no Facebook que leva o mesmo nome do filme, convidou todos a participar do “FLASHMOB ITAMAR”. A ideia era postar um autoretrato misterioso com a mensagem: “facebook.com/daqueleinstanteemdiante – 04/02 – 13h”. Quase que instantaneamente começaram a ser compartilhadas diversas fotos, cada uma mais criativa que a outra.
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543813_530220840342945_1887336386_n     IMG_2174     veja mais aqui: facebook
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Nesta segunda-feira, pontualmente as 13h foi lançado um blog contendo o documentario para dowload em HD, links para assitir através do YouTube e Vimeo, além de material grafico também para dowload, textos, agradecimentos e todas informações sobre o documentario.
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“Por favor, trate com respeito esse material”
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Logo depois do lançamento do blog Anelis Assumpção (filha de Itamar) postou em sua pagina pessoal:
“Ta aqui! o filme Daquele Instante em Diante, um doc sobre meu pai dirigido por Rogério Velloso, e que não seria possível assitir na internet não fosse a cara de pau brasileira. Agora segue a versão turbinada, de alta qualidade. Porque eu tbm sou pirata.”
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Em 2012 o documentario foi colocado no YouTube sem autorização.
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projeto nego dito no oi futuro ipanema

Isca de Polícia refaz o roteiro paulista da obra de Itamar em show no Rio
mauro ferreira – blog notas musicais – 20/01/13

isca2Sem preocupações cronológicas ou didáticas, a banda paulista Isca de Polícia celebrou a obra de Itamar Assumpção (1949 – 2003) em série de quatro shows apresentados no Rio de Janeiro (RJ) no projeto Nego Dito – Uma homenagem a Itamar Assumpção.

Idealizado para reverenciar o compositor neste ano de 2013 em que sua precoce saída de cena completa uma década, o ciclo de shows foi apresentado no teatro do Oi Futuro Ipanema neste fim de semana e no anterior. Cantora que está lançando disco inteiramente dedicado ao cancioneiro de Itamar Assumpção, Tudo esclarecido, Zélia Duncan foi a convidada do quarto e último show.  (foto Rodrigo Amaral)

leia mais aqui: notas musicais

geniais transgressores

 itaú cultural – revista continuum – outubro 2011

1330219216-366x147A trajetória de artistas que foram contra a corrente. Por meio de sua arte, de fortes tintas transgressoras ou de sua postura diante da vida, eles ajudaram a romper com conceitos ultrapassados, a moldar um novo pensamento que acabou por influenciar as pessoas, por formar seu olhar.

São profissionais que quebraram as convenções de seu tempo, foram desbravadores, pioneiros. Conheça as histórias desses criadores, que ajudaram a mudar comportamentos e a abrir a mente das pessoas para estéticas ousadas. Depois que eles surgiram, no Brasil ou em outros países, a arte nunca mais foi a mesma.

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itamar assumpção

 leandro valquer – revista raça brasil – 05/04/11
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Experimentalista nato, Itamar criou uma estética muito própria e, ao mesmo tempo universal. Afirmava que se alguém quisesse fazer música brasileira nova teria de, necessariamente, beber na música dele e na de Arrigo Barnabé.

Manteve até o fim sua atitude iconoclasta, transbordando sarcasmo, crítica social e, sobretudo, humor, muito humor. Ele dizia: “Sou um revolucionário!”.

Itamar questionava constantemente o conceito suspeito de sucesso que os meios de comunicação andam por aí difundindo em relação à arte efêmera que se consome em massa. “Quando a gente assina um contrato com a gravadora, perde a autonomia da obra e eu não vejo sentido em continuar com esse sistema” ou “Alguns dizem que fazem sucesso, mas eu pergunto: isso é sucesso? Que arte é essa? Meu público não entra nessa, sou fiel ao que acredito e ninguém me tira do meu caminho.”

Itamar Assumpção soube como ninguém temperar sua música com os mais variados gêneros da música negra, sem anular suas impressões digitais e ao mesmo tempo criando uma musicalidade nova, muito própria e regional.

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