A meu respeito

img343_2Não existe esse negócio de ser MPB, de ser isso e aquilo. Este é um país cuja principal característica é não ter característica. Então como você vai ficar colocando títulos? (…)
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Então é muito chato essa conversa de ficar falando da minha música, da música do Arrigo. Nós nos defendemos criando. A gente já se defendeu. Não precisa nos defender, né? É bobagem isso. (…)
Deixa os pretos, é bom pro Brasil, pra música brasileira. Sem eles como é que ia fazer  com o fado, enfadonho como é, com a música clássica que dá sono e com a música de índio que nem chuva chama? Então esse papo de racismo deu no meu saco há muito tempo. Bom, posso dizer que ser preto é positivo pra mim como artista porque sou preto, entende? Tenho a tecnologia dos pretos, não me canso de falar isso. Desde que eu me conheço por gente é isso que eu sou na vida. Som, música, todo o tempo. Batuque desde criança, os pretos o tempo todo. (…)
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Gravadora é o seguinte: uma música tem que ser feita para ser vendida e tão somente. E essa música tem que ser uma coisa, um produto, que se preste a isso. Totalmente descartável. Bom. Se a conversa é essa, como é que vou mudar essa conversa? Eu, o artistão, que estou aqui com as minhas musiquinhas, como é que vou mudar essa conversa?
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Quando eu cheguei, já tinha o Milton, o Melodia, o Paulinho da Viola , esse pessoal que já sofisticou música pra cacete, produziu uma música sofisticadíssima. Então, você vai falar o que? Abobrinha? Tanto que eu tive o cuidado de ver o que estava acontecendo. (…)
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Não é só chegar na gravadora e falar, você é filho da puta porque eu não posso me desenvolver artisticamente, e tchau, porque eu sou, porque preciso pensar, e como fazer um disco por ano, e tal?…então tem todo um raciocínio depois que Inês é morta, que eu fui alertado antes. Se tivesse entrado, estaria crau!… porque não sou o rei da cocada preta. Se fosse entraria lá e mudaria tudo. Como não sou estou aqui, onde estou. Resolvi andar, às próprias custas. Essa coisa de ficar de rabo preso não dá certo. Nem com amigos. Porque aí os amigos pisam no tomate e você tem de ficar quieto. Não sou o guardião  da verdade mas quero a liberdade de não ter que. De ter que participar de tudo quanto é falcatrua senão você esta por fora. Se não entra numa roda não vai pro mercado, não acontece. Essa imposição à arte, não… jamais alguém vai ter como segurar a arte, porque isso não existe. Não aguento mais essa defesa dos talentosos. Quem tem talento é o primeiro com possibilidade de tocar o seu trabalho.
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Eu sou de uma família de atores. Aliás, foi difícil pra eu ver a música porque o teatro era muito forte na minha vida. Cheguei a pensar: Será que não é o teatro a minha vida? Hoje me parece que tudo não passou da preparação de uma linguagem. O palco é realmente o meu espaço e a interpretação teatral. Minhas músicas são interpretadas o tempo todo. E não é a interpretação de um interprete ou de um cantor, mas de um compositor, ator, arranjador, etc e tal. No Brasil você tem que ser isso ou aquilo. Tiririca, Leandro e Leonardo, não dá. Egberto Gismonti, também não dá. “Onde você está?”, me perguntam. Não sei. E não adianta querer me colocar em algum lugar… eu estou na música brasileira. Se vire, quem quiser. Falo de uma música pra ficar. Faz vinte anos que eu estou aí e não sei como faz pra ficar, cara. Só sei que não tenho a ver com nenhum movimento, agora passou pra outro, agora passou pra outro, agora passou pra outro. Minha música da muito trabalho.
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Extraído de entrevista concedida a Luiz Chagas, na Penha, em 9 de Agosto de 1999 no livro Pretobrás: Por Que Que Eu Não Pensei Nisso Antes? O livro de canções e histórias de Itamar Assumpção, vol II – São Paulo: Ediouro, 2006 – Organizadores Luiz Chagas e Mônica Tarantino
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os malditos também sambam

Já imaginou um bloco de Carnaval puxado por Itamar Assumpção, Jards Macalé, Tom Zé, Sérgio Sampaio, Walter Franco e Jorge Mautner?

Repertório não faltaria, pois todos são autores de samba, como prova esta seleção de 13 músicas feita pelo Álbum Itaú Cultural.

ita album

ouça aqui: play list

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Lançada em 1998 no álbum Pretobrás por que Eu Não Pensei Nisso Antes, “Vou de Vai-Vai” transporta Itamar Assumpção (1949-2003) para o Bixiga, bairro de uma das principais escolas de samba de São Paulo.

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daquele instante em diante

110708-124558-3-poster_2Durante 3 anos Rogério Velloso mergulhou na obra de Itamar Assumpção para preparar o documentario “Daquele Instante em Diante”.
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Com depoimentos da familia, amigos, integrantes das bandas que acompanharam Itamar (Isca de policia e Orquideas do Brasil) os quase 120 minutos de filme emocionam, surpreendem, instigam, fazem com que tenhamos vontade de mergulhar com a mesma intensidade que Rogério fez tão bem.
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Lançado em Julho de 2011 o documentario teve exibições nas salas de cinema Arteplex em São Paulo, Itau Cultural, Auditorio Ibirapuera, além de já ter sido exibido em Curitiba e Belo Horizonte.
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Na sexta-feira passada (31 jan) o diretor, através da página de divulgação no Facebook que leva o mesmo nome do filme, convidou todos a participar do “FLASHMOB ITAMAR”. A ideia era postar um autoretrato misterioso com a mensagem: “facebook.com/daqueleinstanteemdiante – 04/02 – 13h”. Quase que instantaneamente começaram a ser compartilhadas diversas fotos, cada uma mais criativa que a outra.
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543813_530220840342945_1887336386_n     IMG_2174     veja mais aqui: facebook
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Nesta segunda-feira, pontualmente as 13h foi lançado um blog contendo o documentario para dowload em HD, links para assitir através do YouTube e Vimeo, além de material grafico também para dowload, textos, agradecimentos e todas informações sobre o documentario.
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“Por favor, trate com respeito esse material”
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Logo depois do lançamento do blog Anelis Assumpção (filha de Itamar) postou em sua pagina pessoal:
“Ta aqui! o filme Daquele Instante em Diante, um doc sobre meu pai dirigido por Rogério Velloso, e que não seria possível assitir na internet não fosse a cara de pau brasileira. Agora segue a versão turbinada, de alta qualidade. Porque eu tbm sou pirata.”
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Em 2012 o documentario foi colocado no YouTube sem autorização.
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projeto nego dito no oi futuro ipanema

Isca de Polícia refaz o roteiro paulista da obra de Itamar em show no Rio
mauro ferreira – blog notas musicais – 20/01/13

isca2Sem preocupações cronológicas ou didáticas, a banda paulista Isca de Polícia celebrou a obra de Itamar Assumpção (1949 – 2003) em série de quatro shows apresentados no Rio de Janeiro (RJ) no projeto Nego Dito – Uma homenagem a Itamar Assumpção.

Idealizado para reverenciar o compositor neste ano de 2013 em que sua precoce saída de cena completa uma década, o ciclo de shows foi apresentado no teatro do Oi Futuro Ipanema neste fim de semana e no anterior. Cantora que está lançando disco inteiramente dedicado ao cancioneiro de Itamar Assumpção, Tudo esclarecido, Zélia Duncan foi a convidada do quarto e último show.  (foto Rodrigo Amaral)

leia mais aqui: notas musicais

geniais transgressores

 itaú cultural – revista continuum – outubro 2011

1330219216-366x147A trajetória de artistas que foram contra a corrente. Por meio de sua arte, de fortes tintas transgressoras ou de sua postura diante da vida, eles ajudaram a romper com conceitos ultrapassados, a moldar um novo pensamento que acabou por influenciar as pessoas, por formar seu olhar.

São profissionais que quebraram as convenções de seu tempo, foram desbravadores, pioneiros. Conheça as histórias desses criadores, que ajudaram a mudar comportamentos e a abrir a mente das pessoas para estéticas ousadas. Depois que eles surgiram, no Brasil ou em outros países, a arte nunca mais foi a mesma.

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itamar assumpção

 leandro valquer – revista raça brasil – 05/04/11
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Experimentalista nato, Itamar criou uma estética muito própria e, ao mesmo tempo universal. Afirmava que se alguém quisesse fazer música brasileira nova teria de, necessariamente, beber na música dele e na de Arrigo Barnabé.

Manteve até o fim sua atitude iconoclasta, transbordando sarcasmo, crítica social e, sobretudo, humor, muito humor. Ele dizia: “Sou um revolucionário!”.

Itamar questionava constantemente o conceito suspeito de sucesso que os meios de comunicação andam por aí difundindo em relação à arte efêmera que se consome em massa. “Quando a gente assina um contrato com a gravadora, perde a autonomia da obra e eu não vejo sentido em continuar com esse sistema” ou “Alguns dizem que fazem sucesso, mas eu pergunto: isso é sucesso? Que arte é essa? Meu público não entra nessa, sou fiel ao que acredito e ninguém me tira do meu caminho.”

Itamar Assumpção soube como ninguém temperar sua música com os mais variados gêneros da música negra, sem anular suas impressões digitais e ao mesmo tempo criando uma musicalidade nova, muito própria e regional.

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